Profissional compartilha sua experiência após trabalhar na Coreia do Sul por 2 anos
Fernando é graduado em Administração de Empresas e Ciências Contábeis e tem um MBA pela Duke University nos EUA. Trabalhou por mais de 8 anos em consultoria de processos e gestão e já morou fora do Brasil por mais de 6 anos. Fernando retornou ao Brasil recentemente após sua temporada de 2 anos na Coreia do Sul.
Carreira e Você: Como foi sua decisão de ir trabalhar na Coreia do Sul?
Fernando Vargas: Eu sempre tive muita curiosidade sobre a cultura oriental e me interesso principalmente pela culinária. Quando decidi cursar MBA nos EUA, eu já vislumbrava a oportunidade fazer um intercâmbio em alguma faculdade da Ásia. Estudei em Shanghai por 3 meses e aproveitei para conhecer melhor a região. Já de volta aos EUA, tive a oportunidade de participar de um processo seletivo para a Samsung na Coreia do Sul. Recebi uma proposta muito atraente e achei que seria legal passar alguns anos por lá. Saí da China achando que não voltaria a trabalho para a Ásia e acabei retornando mais rápido que eu imaginava.
Vale a pena dar um tempo na carreira para estudar fora?
Vale a pena dar um tempo na carreira para estudar fora?
CV: Quais foram os maiores desafios no ambiente de trabalho Sul-Coreano?
FV: Morar fora é sempre uma montanha russa. No começo, tudo é diferente, empolgante e melhor que no seu país. Com o tempo, a lua de mel acaba e você vai percebendo as diferenças com um gosto amargo. A área onde eu trabalhava na Samsung era composta por consultores de todos os lugares do mundo, e todos tinham uma percepção muito semelhante à minha.
Antes de falar sobre as dificuldades que enfrentei, seria interessante contar um pouco da história da Coreia. A Coreia do Sul é um país que tem um histórico de invasões violentas por diversos países da Ásia. Durante a Guerra da Coreia na década de 50, o país foi destruído e se tornou um dos mais pobres do mundo. Porém, nos últimos 30 anos, a Coreia do Sul passou por grandes transformações e se tornou um país desenvolvido, com uma economia pujante. A cultura que existe lá hoje é muito baseada nesse histórico e está em contínua mudança.
Nesse contexto, existe um certo receio ou desconfiança dos coreanos em relação aos estrangeiros. Os coreanos em geral são muito fechados e depois de algum tempo você começa a perceber que não é tão bem vindo quanto imaginava. Além disso, passavam-se dias sem se ver algum estrangeiro nas ruas, com exceção dos meus colegas da Samsung. Era até comum estrangeiros se cumprimentarem no metrô sem se conhecerem.
Outro grande desafio é a hierarquia e centralização de poder. A cultura oriental é baseada no confucionismo que prega a hierarquia nas relações e valorização da senioridade. No trabalho, todas as decisões são centralizadas em um número muito pequeno de pessoas e a opinião dos níveis mais baixos vale muito pouco. As pessoas são promovidas com base em anos de trabalho e pouco importa se são competentes, mas sim a quantidade de cabelos brancos que têm na cabeça.Nesse contexto, existe um certo receio ou desconfiança dos coreanos em relação aos estrangeiros. Os coreanos em geral são muito fechados e depois de algum tempo você começa a perceber que não é tão bem vindo quanto imaginava. Além disso, passavam-se dias sem se ver algum estrangeiro nas ruas, com exceção dos meus colegas da Samsung. Era até comum estrangeiros se cumprimentarem no metrô sem se conhecerem.
Por fim, a falta de transparência e comunicação no ambiente de trabalho dificulta o dia-a-dia na empresa. Decisões que afetam o seu trabalho diretamente são tomadas sem nenhuma explicação e com poucas oportunidades de questionamento. Também não é educado perguntar razões para algumas coisas, ou até mesmo colocar pessoas em situações difíceis por razões culturais - algo que eles chamam de "Nunchi". Você precisa entender sentimentos, opiniões e o humor de outras pessoas sem falar com elas sobre o quê está acontecendo.
Apesar de tudo isso, depois que você quebra essas barreiras iniciais, os coreanos são muito amigos e valorizam a família acima de tudo. Alguns aspectos da cultura estão mudando muito rápido, como o hábito de beber muito depois do trabalho, que já é evitado em grandes empresas.
CV: Como o período que você trabalhou na Coreia do Sul contribuiu para o seu desenvolvimento profissional?
FV: Do ponto de vista técnico, foi interessante porque a Samsung tem uma estratégia de crescimento muito agressiva internacionalmente e eu tive a oportunidade de desenvolver vários projetos de crescimento em diversos países e indústrias. Poucas empresas hoje se dão ao luxo de poder ter metas tão agressivas.
Já do ponto de vista comportamental, eu desenvolvi muito habilidades de relacionamento interpessoal e liderança, já que eu coordenava e atuava em equipes multiculturais, trabalhando com cerca de 100 consultores de diferentes nacionalidades e backgrounds. Eu também tive grande exposição a altos executivos da empresa, uma vez que que eu atuava em projetos de grande relevância estratégica. Além disso, eu aprimorei minhas competências de negociação. Na cultura coreana, as decisões são tomadas por consenso unânime e para se chegar à uma decisão, tínhamos que negociar o tempo todo com os envolvidos, mesmo havendo falta de uma comunicação direta. O fato de sermos todos estrangeiros era um dificultador a mais nesse processo, pois tínhamos que conquistar a confiança dos coreanos.
Aprendi como lidar melhor com ambiguidades ao interagir com diversas culturas. Um bom exemplo é a diferença do comportamento dos coreanos no ambiente de trabalho, onde são fechados, e fora dele, onde são bem mais descontraídos. Era comum o grupo de trabalho sair para jantar para se conhecer melhor, discutir os pontos chaves dos projetos ou até mesmo brindar ao sucesso. Durante o jantar, cada participante fazia um brinde e criava um grito de guerra para impulsionar o sucesso do grupo e do projeto. Nestes eventos, aprendi muito com os coreanos sobre como motivar as equipes e formar um grupo mais coeso.
Aprendi como lidar melhor com ambiguidades ao interagir com diversas culturas. Um bom exemplo é a diferença do comportamento dos coreanos no ambiente de trabalho, onde são fechados, e fora dele, onde são bem mais descontraídos. Era comum o grupo de trabalho sair para jantar para se conhecer melhor, discutir os pontos chaves dos projetos ou até mesmo brindar ao sucesso. Durante o jantar, cada participante fazia um brinde e criava um grito de guerra para impulsionar o sucesso do grupo e do projeto. Nestes eventos, aprendi muito com os coreanos sobre como motivar as equipes e formar um grupo mais coeso.
Por fim, entendi que muitas vezes a persistência é um grande aliado e que mesmo em ambientes adversos é possível ser bem sucedido. Os coreanos não aceitam uma resposta vaga e são incessantes para alcançar os seus objetivos e eu tive que ser mais aberto a novas ideias e insistir mais quando queria sustentar meu ponto de vista. Hoje, me sinto mais preparado para me relacionar com pessoas com divergentes opiniões e a negociar para chegar a uma solução que agrade a todos. Percebi que diversidade de opiniões muitas vezes ajudam a construir um produto de melhor qualidade ou uma estratégia mais robusta.
CV: Na sua percepção, como o mercado brasileiro valoriza a sua experiência na Coreia do Sul?
CV: Na sua percepção, como o mercado brasileiro valoriza a sua experiência na Coreia do Sul?
FV: Estou de volta ao Brasil há somente 3 meses e a minha percepção até agora é que este tipo de experiência é muito pouco valorizado. Lógico que a experiência fora sempre rende uma boa conversa inicial, mas poucas empresas buscam as competências que eu desenvolvi por lá. O Brasil é muito imediatista e as empresas valorizam capacidade técnica de execução em detrimento a competências com impactos de longo prazo, como por exemplo, a capacidade de trabalhar com pessoas de outras culturas.
Outra dificuldade é que as empresas não conhecem muito bem a Samsung e muito menos a área em que eu trabalhava. Aqui, a Samsung ainda é vista como a empresa de eletrônicos que copiou a Apple e não como a empresa inovadora que ela se tornou em pouquíssimo tempo. A Samsung é líder em diversos segmentos na Coreia e no resto do mundo, como por exemplo, ela é a segunda maior produtora de navios do mundo, algo desconhecido pela grande maioria dos brasileiros.
Outra dificuldade é que as empresas não conhecem muito bem a Samsung e muito menos a área em que eu trabalhava. Aqui, a Samsung ainda é vista como a empresa de eletrônicos que copiou a Apple e não como a empresa inovadora que ela se tornou em pouquíssimo tempo. A Samsung é líder em diversos segmentos na Coreia e no resto do mundo, como por exemplo, ela é a segunda maior produtora de navios do mundo, algo desconhecido pela grande maioria dos brasileiros.
Eu trabalhava no departamento de consultoria estratégica da Samsung, subordinada diretamente ao presidente do grupo (Chairman). Foi uma área criada para atrair e desenvolver talentos globais e para gerar um impacto real na empresa. Aqui no Brasil, o mercado vê esta área como auditoria interna e não como uma escola de formação de líderes.
Mesmo não tendo o reconhecimento imediato que eu esperava, eu tenho certeza que minha experiência na Ásia será fundamental para meu desenvolvimento como líder, seja aqui no Brasil ou em qualquer outro país do mundo.
CV: O Carreira e Você agradece ao Fernando por compartilhar essa importante experiência de vida conosco e deseja muito sucesso nessa sua nova fase profissional.
E você, nosso leitor, já teve alguma experiência nos países asiáticos? Já trabalhou ou gostaria de trabalhar por lá? Compartilhe conosco sua opinião e sua experiência!
Já pensou em trabalhar no exterior?
Texto by Exec
Uma história empolgante mesmo sendo relativamente simples!
ResponderExcluirParabéns ao CV pela entrevista!
Uma experiência realmente interessante,eu tenho vontade de estudar e trabalhar na Coréia e finalmente irei.
ResponderExcluirGuerreiro, vencedor ,é assim mesmo a vida pra quem quer vencer . Deus sempre contigo!
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